C2 Cirurgia a Laser e Manejo Protético para o Tratamento de Epulis Fissuratum

Abstract

O objetivo deste estudo foi apresentar um relato de caso da remoção cirúrgica da hiperplasia da cavidade oral, utilizando radiação laser de dióxido de carbono (CO2) e reabilitação com prótese completa. Epulis fissuratum ocorre em pacientes com dentadura completa, pois uma constante ação irritante induz o crescimento da mucosa sob dentaduras mal ajustadas. Estas lesões devem ser removidas, e para evitar uma recaída, novas próteses completas devem ser feitas para manter os tecidos cirúrgicos saudáveis. A sequência clínica apresentada neste caso mostra um paciente completamente desdentado com epulis fissurato no rebordo alveolar inferior estendendo-se até o sulco vestibular da região anterior da mandíbula. A dentadura completa imediata foi realizada antes da remoção da lesão com radiação laser de CO2, proporcionando resultados satisfatórios na função oral e saúde dos tecidos.

1. Introdução

Hiperplasia refere-se ao crescimento tecidual na cavidade oral, localizado sobre as cristas alveolares ou os tecidos moles do sulco vestibular. Sua etiologia é multifatorial, mas alguns fatores irritantes são mais comumente associados, como doença periodontal, má higiene bucal, tabagismo e má adaptação da prótese .

O tratamento deste tipo de lesão inclui eliminação dos fatores causadores e remoção cirúrgica da lesão. Se o fator causal persistir, o tecido se torna mais fibroso com o tempo. As técnicas mais comuns utilizadas para a remoção da lesão hiperplástica são o bisturi cirúrgico, bisturi elétrico, laser de dióxido de carbono, Erbium: YAG laser, Neodymium: YAG laser, e diodo laser .

O laser CO2 é uma opção adequada para procedimentos cirúrgicos em tecidos moles, uma vez que opera no comprimento de onda de 10,6 nμ, que está dentro do intervalo médio do espectro eletromagnético infravermelho. Este comprimento de onda é absorvido por tecidos com alto teor de água . Esta energia é transformada em calor, causando ruptura celular por ebulição de água; portanto, tecidos com alto conteúdo de água sofrem menos danos.

Muitas vantagens do laser de CO2 incluem a possibilidade de sangramento mínimo, edemas decrescentes, flexibilidade do tecido de cicatrização da ferida, dor pós-operatória reduzida e não necessidade de uma sutura convencional. Estes aspectos positivos do uso do laser CO2 tem permitido uma melhora nas cirurgias maxilo-faciais.

Apesar de algumas desvantagens do laser CO2, tais como o atraso na cronologia inicial da reparação devido à necrose por calor, esta técnica proporciona uma reparação adequada sem formação de cicatrizes e constitui uma alternativa ao método convencional de incisão e sutura.

2. Relato de Caso

Uma idosa caucasiana de sessenta e três anos apresentada na Clínica Dentária da Universidade (Faculdade de Odontologia de São José dos Campos-UNESP) em busca de tratamento dentário. O exame clínico mostrou total desdentado e apresentou lesão hiperplásica sobre o rebordo alveolar estendendo-se até o sulco vestibular na região anterior inferior (Figuras 1 e 2). Segundo a paciente, foram realizadas duas cirurgias prévias para remover o excesso de mucosa, mas esta recidiva recidivou duas vezes. Esta lesão poderia prejudicar a retenção e estabilidade de uma futura prótese. Considerando esta situação clínica e a história de recidiva, foi proposta a confecção imediata de dentaduras e a remoção cirúrgica com radiação laser de CO2.

Figura 1
Epulis fissuratum sobre a crista alveolar estendendo-se até o sulco vestibular na região anterior inferior.

Figura 2

Vista do Epulis fissuratum.

Os procedimentos para a confecção de uma prótese completa consistiram de uma única impressão do arco superior e inferior com um hidrocolóide irreversível para registrar a crista e a área lesionada. Foram obtidos moldes (Figura 3), e foram feitas bases experimentais (Figura 4) com cristas de cera, delineando a área da lesão. Foram registradas curvas de compensação e as cristas de cera foram fixadas em relação cêntrica. Estes moldes foram então montados em um articulador arcon semi-adjustável. Os dentes foram montados seguindo as cristas de cera (Figura 5) e a aprovação estética foi recebida do paciente.

Figura 3
Cast do arco inferior obtido por impressão hidrocolóide irreversível.

Figura 4
Bases experimentais foram feitas delineando a área da lesão do elenco.

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Figura 5
Cerais foram feitas sobre as bases experimentais e os dentes foram montados seguindo os padrões de cera.

Após a obtenção de um resultado estético adequado, a área da lesão delineada no gesso inferior foi removida com uma rebarba (Figura 6) até a extensão da base da prótese. Essa área do gesso foi coberta com cera (Figura 7), e tanto a dentadura superior quanto a inferior foram curadas (Figura 8). A fabricação da dentadura foi concluída e a cirurgia prosseguiu. A remoção da lesão foi feita com laser de dióxido de carbono (Sharplan 15 F, Israel-FAPESP 97/07645-2), e para realizar a vaporização foi utilizado o laser de CO2 em modo contínuo com um feixe focalizado com diâmetro de 4 mm e 8 watt (Figura 9) a área vaporizada foi avaliada clinicamente para verificar a ausência de sangramento (Figura 10). Óculos de segurança, máscaras e luvas de procedimento protegeram os profissionais que participaram da cirurgia, e a vaporização foi feita sob constante aspiração da pluma.

Figura 6
A área da lesão foi delineada no gesso inferior e removida com uma rebarba até a extensão da base da prótese.

Figura 7

A área removida da correspondente lesão foi coberta com cera.

Figura 8

Sem as próteses superior e inferior foram polimerizadas.

Figura 9

Aplicação do laser de CO2 na lesão.

Figura 10

O aspecto da área cirúrgica após o uso do laser de CO2.

A prótese foi posicionada, e a prótese inferior foi imediatamente rebaixada com um condicionador de tecido mole para estabilizar a prótese e facilitar a cicatrização da ferida (Figura 11).

Figura 11
A prótese inferior foi rebaixada com um condicionador de partes moles para permitir a reparação tecidual adequada.

O exame pós-operatório foi feito após sete dias e mostrou reparação tecidual satisfatória na área cirúrgica (Figura 12). Os exames pós-cirúrgicos foram realizados após 7, 14, 21 e 30 dias (Figura 13) de uso contínuo da prótese.

Figura 12
O aspecto da área pós-cirúrgica após 7 dias.

Figura 13

O aspecto da área pós-cirúrgica após 30 dias.

3. Discussão

Os resultados clínicos do relato de caso apresentado estão de acordo com outros estudos utilizando laser CO2 para tecidos moles.

No estudo atual, o laser CO2 foi utilizado em modo contínuo para controlar a extensão dos danos térmicos utilizando um feixe focalizado para reduzir a sua intensidade. Kauvar et al. demonstraram histologicamente que o laser de CO2, tanto no modo de pulso quanto no modo contínuo, permitiu a ablação superficial com o mínimo de dano térmico. Alguns autores, como Dobry et al. , também afirmaram que o modo pulso causou menos dano térmico, mas que foi necessário um tempo maior de atuação com o tecido.

As vantagens do uso do laser CO2 foram clinicamente demonstradas no presente estudo, apresentando sangramento mínimo durante a cirurgia sem necessidade de suturas, além de apresentar uma boa resposta cicatricial, com contração mínima da ferida, menor reação inflamatória e boa reepitelização sem formação de cicatrizes. Estas condições também foram encontradas nos estudos de Arruda Paes e Niccoli-Filho e Keng e Loh que demonstraram clinicamente que o laser de CO2 é ideal para uso neste tipo de cirurgias, trazendo conforto e estética para o paciente. Luomanen et al. explicaram que ocorre menos contração de feridas porque o laser de CO2 não remove o colágeno tecidual. Kardos et al. demonstraram que o laser de CO2 é eficaz na vaporização da mucosa oral e na hemostasia por coagulação dos vasos.

Não ocorreram episódios de hemorragia ou infecções durante os exames pós-operatórios. Estes achados estão de acordo com Niccoli-Filho et al. que também demonstraram que boas características estéticas e funcionais foram rapidamente alcançadas em uma cirurgia oral com laser de CO2, possibilitando uma reabilitação protética mais precoce. Assim, o laser de CO2 é um instrumento útil, que proporciona controle do campo cirúrgico e resultados estéticos e funcionais. A técnica apresentada neste trabalho foi facilmente executável e permitiu uma melhor previsão dos resultados da cirurgia.

4. Conclusão

Com base nos resultados do presente relato de caso podemos concluir:(1)o uso da radiação laser CO2 permitiu boa hemostasia na área cirúrgica, ausência de infecções e conforto pós-operatório;(2)o uso da radiação laser CO2 para remoção do tecido hiperplásico viabiliza o uso de próteses e promove uma condição imediata para restabelecer os aspectos estéticos e funcionais.

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